Se a economia cearense fosse uma máquina, uma das principais engrenagens seria o setor atacadista. É ele que faz a indústria se movimentar, para atender às demandas de maior volume, e também gira o funcionamento do varejo e dos serviços, segmentos de peso considerável no mercado estadual. Considerando apenas o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), principal tributo do Governo do Ceará, no primeiro trimestre deste ano, o setor foi responsável por arrecadar R$ 818,20 milhões. Aumento de 30,18% em relação a igual período de 2020), segundo dados da Secretaria da Fazenda do Estado do Ceará (Sefaz-CE).
“O segmento atacadista, também chamado de atacarejo, é extremamente importante para a economia, porque fortalece o mecanismo de distribuição de alimentos e produtos para toda a região, facilitando também a questão dos custos, visto que ajuda no escoamento da produção dessas empresas”, observa o economista Ricardo Coimbra, presidente do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE).
Empregos
Outra grande participação do setor atacadista na economia do Estado está relacionada à geração de empregos: de acordo com estimativas da Associação Cearense de Atacadistas e Distribuidores (Acad), as empresas do segmento geram cerca de 15 mil postos de trabalho diretos. “Esse número se amplia bastante, se formos considerar a mão de obra indireta, como promotores de venda, vendedores autônomos e trabalhadores do transporte, geralmente terceirizados”, observa Milton Carneiro, presidente da Acad.
“Hoje, além de o Ceará ser referência em distribuição, os atacadistas chegam a todas as cidades do Estado. Sem exceção, todas são atendidas pelo setor, desde o pequeno varejo, a bodegazinha de bairro, até as grandes redes de supermercados, inclusive a cadeia de bares e restaurantes, hotéis e pousadas”, reforça, ressaltando a variedade de produtos contemplados pela cadeia produtiva. “Entregamos todo tipo de segmento que se possa imaginar: farmacêutico, alimentar, bebidas, cereais, higiene, limpeza”, exemplifica Milton.
Concorrência
No último dia 13, o Grupo Mateus, com sede no Maranhão e atuação no Pará e no Piauí, inaugurou a primeira loja no Ceará. A unidade de Tianguá tem a bandeira Mix Atacarejo e faz parte da estratégia de expansão da empresa, que apenas no primeiro trimestre deste ano inaugurou 11 lojas, totalizando 43 novas unidades nos últimos 12 meses. Isso representa um ganho de mercado de 10% de receita bruta em relação ao primeiro trimestre de 2020.
“Oferecemos uma experiência de compra diferenciada, com serviços e um mix de itens estendido, que inclui produtos regionais e nacionais. Essa estratégia gerou uma rápida integração com o mercado, bem como a fidelização de clientes”, afirma Ilson Mateus, presidente do Grupo Mateus.
A expansão dos negócios também faz parte dos planos do Assaí. “O Ceará foi o primeiro estado fora de São Paulo para onde expandimos a marca, em 2008. Sempre fomos muito bem recebidos pela população cearense, que abraçou prontamente o nosso modelo de negócio e a nossa marca. Teremos novas lojas aqui neste ano, que já estão em obras e previstas para inaugurar no segundo semestre”, informa Luiz Carlos Araújo Costa, diretor regional do Assaí Atacadista no Ceará. “O nosso planejamento é abrir até 28 novas lojas neste ano em todo o Brasil, incluindo novas unidades em Fortaleza, trazendo mais investimentos à capital cearense e gerando centenas de empregos”, acrescenta.
Outro integrante de peso do setor no Estado é o Atacadão, que pertence ao Grupo Carrefour. “O modelo de atacarejo é bom para o consumidor que busca preços mais vantajosos. O custo baixo e eficiência operacional são atrativos ao consumidor. Nossa expectativa é inaugurar mais 45 novas lojas em 2021. Estamos ajudando o consumidor brasileiro e os pequenos negócios a enfrentarem a inflação e a pandemia e, como resultado, nossas vendas brutas neste primeiro trimestre de 2021 atingiram R$ 12,7 bilhões”, comemora Marco Oliveira, vice-presidente do Atacadão.
Preparação
O acirramento da concorrência não parece abalar os atacadistas cearenses. “Tem espaço para todo mundo, desde que seja de forma saudável, de forma igual. Se ninguém tiver uma situação fiscal diferente da nossa, estamos aptos a competir. Nosso setor é muito organizado, muito preparado, temos know how para isso”, analisa Milton Carneiro.
O potencial de crescimento do setor deve continuar atraindo investimentos, como o do Mercadinhos São Luiz, referência no varejo, que está reforçando a bandeira Mercadão, mais direcionada para o atacado.
“Nossa bandeira Mercadão é uma loja de desconto, agressiva, em termos de preços, e que a gente tem feito um trabalho acreditando muito na marca, e deveremos ter uma expansão dela, de forma significativa. Nosso objetivo é ampliar o atendimento ao público, precisamos atender a 100% da população de Fortaleza, e a bandeira Mercadão tem tudo a ver com isso. Trabalhamos para fortalecer esse mercado cearense, que a gente tanto gosta. Acreditamos muito no nosso Estado e queremos chegar a mais municípios, estamos criando estratégias e logística para isso”, observa Severino Ramalho Neto, diretor do Mercadinhos São Luiz.
Desempenho nacional é destaque no primeiro trimestre
Para o mercado nacional, o setor atacadista também desempenha papel estratégico. Conforme dados da Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores (Abad), o segmento obteve faturamento nominal em março de 3,77% sobre março de 2020 e de 12,62% em relação a fevereiro. Esse desempenho resultou no crescimento de 3,75% no primeiro trimestre, na comparação com igual período de 2020.
Entre os fatores que explicam as altas do setor estão o aumento das compras de alimentos para preparação de refeições em casa. Além disso, muitas empresas do segmento de alimentação, como restaurantes e lanchonetes, já fizeram a recomposição de sua cadeia de distribuição, ao adotar, por exemplo, o sistema de delivery para o atendimento dos clientes.
“Estamos muito otimistas com o futuro do segmento, especialmente no Ceará, que está pronto para o desenvolvimento: temos aeroporto, rede hoteleira, um turismo forte, tudo o que pode fazer, no pós-pandemia, a economia voltar a crescer. E o setor atacadista está totalmente pronto para receber e participar dessa nova fase”, garante Milton Carneiro, presidente da Acad.
“Para o atacado cearense, em razão da entrada de mais um grande player (Grupo Mateus) no mercado, que já possuía participantes de peso, fica estabelecida uma competitividade permanente no segmento, e isso deve trazer boas consequências para o consumidor final”, projeta Ricardo Coimbra, presidente do Corecon-CE.
Empresas preparam estratégias para aproveitar o perfil diversificado dos clientes
O perfil variado de clientes é uma das marcas do setor atacadista. Um fator que se torna uma vantagem estratégica, quando as empresas traçam políticas para aproveitar essa característica. “É um público muito exigente, que mescla tanto o consumidor final quanto o pequeno e médio comerciante. Atender os dois, ao mesmo tempo, nos traz um desafio adicional ao segmento e à empresa”, destaca Luiz Carlos Araújo Costa, diretor regional do Assaí Atacadista no Ceará. Ele informa que, por essa razão, o Assaí trabalha com uma política de dois preços (atacado e varejo), “o que possibilita a prática de um preço menor para os clientes que levarem mais quantidade do mesmo produto”.
Essa possibilidade de atender aos dois tipos de cliente – tanto o de atacado quanto do varejo – deu origem à expressão “atacarejo”, que caracteriza as maiores empresas do segmento. Graças a elas, e às estratégias diferenciadas de preços, houve a popularização do atacarejo nos últimos dez anos, especialmente entre o consumidor final. Isso tem obrigado praticamente todas as empresas a trabalharem a proposta de loja, com experiências de compra cada vez melhores para os clientes.
“No Assaí, as novas unidades passaram a contar com melhor iluminação, climatização, ambientação de loja e localização. Esse novo modelo se caracteriza por corredores amplos, pé-direito alto e câmaras frigoríficas grandes. Ampliamos a quantidade de produtos (em dez anos, passamos de 6 mil para quase 10 mil itens), incluindo não apenas alimentos, higiene e limpeza, mas também categorias como bazar, pet, brinquedos e eletroportáteis”, diz Luiz Carlos.
“Em relação aos compradores de maior porte, as empresas do varejo ajudam a financiar o estoque do cliente, estendemos o prazo de pagamento, damos melhores condições, assistência nas venda, com um pós-venda bem estruturado. Realmente, é de suma importância para o estado a cadeia de distribuição, porque não se trata apenas de chegar, vender o produto e ir embora: prestamos uma verdadeira consultoria de vendas”, afirma Milton Carneiro, presidente da Acad.
Fonte: O Otimista