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A segunda maior onda de inovação do varejo alimentar

30 maio 2019

por THIAGO BERKA* revista@supervarejo.com.br

*Graduado em Economia pela UF5C e em Administração pela Univali, com MBA em finanças pelo IBMEC, é economista da APAS.

O tradicionalismo do varejo alimentar observa mudanças rápidas e disruptivas, como nunca antes visto. É curioso pensarmos que, na década de 1930, o setor promoveu grande inovação, ao varrer as antigas mercearias e os empórios. Em apenas 30 anos, saiu de um pequeno percentual, no total do varejo de alimentos e bebidas, para dominar 69% das vendas dos EUA – e, então, se tornar a “norma” nesse tipo de comércio de produtos.

Hoje, o que vemos é uma onda de inovação mudando de forma consistente e irreversível o modo como o setor opera. Desde sua criação, na grande depressão estadunidense, até hoje, era natural, para todos, a operação de comprar e colocar nas cestas de produtos (ou carrinhos) e, depois, passar no checkout.

Agora, as mudanças tecnológicas, culturais e demográficas colocam em questão toda a forma de operar do setor. Uma das principais perguntas é: como será a relação entre o digital e o físico? Dos US$ 5,7 trilhões que o varejo alimentar fatura, cerca de US$ 200 até US$ 700 bilhões poderão ser direcionados para os canais de lojas de hard discount, lojason-line e outros canais não tradicionais, segundo mostra a empresa de consultoria empresarial Mckinsey. Para se ter ideia do por que afirmo que essa onda tecnológica é tão impressionante, em apenas cinco anos, a partir de 2012, mais de 50% do lucro econômico do varejo alimentar no mundo desapareceu.

Se formos buscar as causas de tais mudanças, podemos conectá-las à própria evolução da tecnologia, na mudança demográfica e cultural. No Brasil e no mundo, uma geração jovem nasceu acostumada a ter tudo a um toque das mãos, com conveniência e agilidade. As pessoas cozinham cada vez menos. Os lares são menores e as famílias têm menos filhos. Muitas pessoas moram sozinhas. O custo de instalação de equipamentos eletrônicos – de servidores e de conexão à internet, por exemplo é baixo, permitindo o acesso de milhões de novos consumidores a novas lojas, às quais, antes, não havia acesso físico. Isso sem falar na questão preço, que nunca antes foi tão importante, mesmo em países desenvolvidos, como é o caso dos Estados Unidos e do Reino Unido, mercados maduros que sofrem concorrência forte das lojas de desconto e do mercado on-line – o market share do Aldi, símbolo das lojas de hard discount, já é de 12% no Reino Unido e de 13% na Austrália.

Tudo isso exige pensar em um jeito diferente de operar a loja, em que as inovações se traduzam em conveniência e assertividade na experiência do cliente, com redução de custos e despesas, para que a política de preços seja competitiva.

No Brasil, dadas as características peculiares do mercado, é interessante observar a velocidade e o nível de implantação de inovação. Nossa renda ainda é muito baixa, há enorme disparidade regional de costumes e renda – em São Paulo, já temos a primeira loja sem caixa, enquanto, em boa parte do país, o velho livro de fiado persiste. Os serviços de delivery implantados em várias lojas do interior não se pagam, mesmo após anos de funcionamento. Self-checkouts são implantados aos poucos e há lojas que reportam até 15% do faturamento sendo pago nesses terminais, enquanto outras não teriam condições de lidar com as possíveis perdas dessa modalidade.

Quaisquer que sejam as opiniões sobre as mudanças da tecnologia, as cifras não mentem: bilhões de dólares estão em jogo no varejo alimentar. Quem tiver mais capacidade de implantar inovações, irá capturar o maior naco desse gigante setor.

Fonte: https://www.supervarejo.com.br/